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FILOSOFIA DA RELIGIÃO

FILOSOFIA DA RELIGIÃO

Fonte:http://www.quadrante.com.br/

POR DEUS A PROVA .

Muitos filosofos puseram Deus a prova, duvidando portanto da sua existencia, dentres esses pensadores temos Sigmund Freud, que também foi um pensador da religião.mas Guilherme Malzoni Rabello, discorda de alguns pontos do seu pensamento e outro que concorda.

  Freud nasceu em 1856 na cidade de Freiberg.

Por Guilherme Malzoni Rabello
 
 
 
Sigmund Freud foi um dos pensadores mais originais do século XX. Conhecido principalmente como o pai da psicanálise, o famoso doutor vienense também se empenhou em analisar algumas das grandes questões da humanidade. Dentre estas, o maior esforço talvez tenha sido dedicado a esclarecer de uma vez por todas por que os homens tanto se preocupam com a religião. A esse assunto, ele dedicou várias passagens na sua obra, sendo que dentre elas se destaca o ensaio intitulado O futuro de uma ilusão.
 
 
 

I

 

Um dos antepassados de Freud – Aristóteles – dizia quetodoesforço filosófico nasce da admiraçãoouespanto. Se isso for verdade, estamos num bomcaminho, poisnãocomoreagir de outramaneira à leitura de O futuro de uma ilusão. Emmenos de noventa páginas 1 (praticamente duas sessões de cinqüenta minutos) somos levados pelas mãos seguras do Dr. Freud pormais de cincomilanos de pensamento – e descobrimos queatéagora éramos todosumpoucotolos. Digo tolosporqueemnenhummomentonos foram apresentadas causas obscuras, teorias conspiratórias: pelocontrário, o textocomeçacom algumas amenidades e lampejos sociológicos para, a partir do capitulo três, tratar da questãoreligiosa.

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(1) A edição usada comoreferência neste texto é: Sigmund Freud, O futuro de uma ilusão, Imago, 1997.

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Mais especificamente, o texto analisará o cristianismo, pois, comonos informa o autor na página 33, “as idéias religiosas acima resumidas naturalmente passaram porumlongoprocesso de desenvolvimento[...]. Isolei uma dessas fases, que corresponde à formafinal assumida pornossaatualcivilizaçãobranca e cristã”.

 

O espantocomeça a aparecerquando percebemos que o Dr. Freud fará toda a suaanálise da religiosidade européia semcitarnem uma únicavez a figura de Cristo. Uma leituraumpoucomaisatentanosmostraquesequer a palavracristianismo” foi usada ao longo de todo o texto. A estranhezaaumentaquando o próprioautor diz que a religiosidade européia não se desenvolveu do nada, nem é uma formadifusa de difícilidentificação; de fato, a religiosidade européia, ao longo dos últimosdoismilanos, foi praticamente toda moldada pelocristianismo e, principalmente, pelaIgrejaCatólica.

 

Na página 45 encontramos a únicareferênciaespecífica ao catolicismo e ao que Freud acredita ser a doutrinacatólica. Porele ficamos sabendo que uma tentativa de demonstração da verdade das doutrinas religiosas “é o «Credo quia absurdum», do primeiroPadre da Igreja. Sustentaque as doutrinas religiosas estão fora da jurisdição da razãoacima dela. Suaverdade deve sersentidainteriormente, e nãoprecisaser compreendida”.

 

 

Freud aludeaqui a quemqueele considera ser o “primeiroPadre da Igreja”, Tertuliano.

 

Mas... o que é que Tertuliano está fazendo nessa história? Antes de maisnada, é precisodizerque o Dr. Freud pisou na bola ao apresentá-lo como representativo da doutrina cristã. Embora seja umautormuito respeitado querpelasua antigüidade, querpor muitas das suasidéias, Tertuliano não éPadre da Igreja: falta-lhe ortodoxia de doutrina. Tambémnão é o primeiroautorcristão estudado na Patrologia: essa posição caberia antes a Clemente Romano († ca. 95), o terceirosucessor de Pedro comopapa, ou a Inácio de Antioquia († ca. 107). E bastaria um brevíssimo exame de qualquermanual de Patrologia ou História da Igreja paracomprovar essa afirmação.

 

Tertuliano (155-222) nasceu em Cartago, no norte da África, e mudou-se inicialmentepara Roma, onde exerceu a profissão de jurista. Converteu-se ao cristianismoporvolta de 193, estabelecendo-se novamenteem Cartago. A partir de então, tornou-se um dos maisbrilhantesdefensores da cristã, emborasemprecomumtomumtantoviolento. Em 207, passou para a seita dos montanistas, que defendia um rigorismo moralabsoluto, e que perduraria no norte da África até a época de Agostinho.

 

Emtorno dessa vidabastante atribulada existia umambientetambémpeculiar. No século II, num momentoemque o cristianismoainda estava proibidodentro do ImpérioRomano, além das acusaçõesexternas à religião havia também diversas dissidências internas na Igreja. Ao mesmotempo, surge o queveio a serconhecidocomo Patrística, a primeiratentativa de estruturação do pensamentocristão de caráter filosófico e teológico. Estritamente, falar de movimentoouescola seria excessivo, pois na verdade trata-se de autoresmuitodiversos, bispos, sacerdotes e leigos, compreocupações e finalidadesdiferentes, oraindependentesentresi, ora vinculados pelas idéias; massemprecom a preocupação de defender a cristã dos diversosataquesque proliferavam contra o cristianismoincipiente. A tendência apologética, defensiva, é o quemarca a primeira Patrística e os textos impressionam pelaeloqüênciaretórica, no que Tertuliano eramestre.

 

Um dos centro de discussão e, conseqüentemente, das dissidências na Patrística se referiam à aceitaçãoounão da filosofia pagã. Nesse sentido, é possívelafirmar a existência de duas tendências praticamente opostas. A primeira, conhecidacomo Patrística grega, defendia entre outras coisas a continuidade do pensamentogregocom o cristão, no sentidoemquemaistarde Clemente de Alexandria dirá: “A filosofia é o pedagogoqueleva a almaaté Jesus Cristo”. a Patrística latina, nas figuras de Arnóbio, Minúcio Félix, Tertuliano e outros, tomará inicialmente uma direçãoantagônica, expressaquando Minúcio Félix diz que a filosofia, é “a mãe de todas as heresias2.

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(2) V. Olavo de Carvalho, Históriaessencial da Filosofia. Aula 13: Filosofia cristã, Ed. É Realizações, 2005.

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É nesse sentidoque devemos entender o Credo quia absurdum 3. Não se trata de uma exposiçãodoutrinária: Tertuliano não pretende fazer uma doutrina. Paraele a vinda de Cristo à terra é umfato, e comofatonão deve ser pensado, mas comprovado experimentalmente, no casopormeio de tes­te­mu­nhas autorizadas (e nãosentidointeriormente”, como diz Freud). Portanto, o cristianismonão deveria ser uma doutrinaparaexplicar a vinda de Jesus Cristo, poispoderiaserentendidocomo uma experiência, e transmitir essa experiência seria a função da Igreja.

 

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 (3) Convém notarque essa frase, na realidade, nem ao menos é de Tertuliano. Étienne Gilson e Philotheus Boehner, emHistória da Filosofia Cristã, 8ª. ed., Vozes, pág. 134, dizem-nos: “Emqualquerhipótese, a fórmula «credo quia absurdum» jamais foi empregadapor Tertuliano. Esta frasenãopassa de uma interpretação de certasexpressõessuas [...]. O que estas frases querem dizer é simplesmenteisso: se a nãonos propusesse nada de incompreensível, ela deixaria de sercrença, para transformar-se emciência e conhecimento. [...] Não se devem forçardemasiadamente as expressõeslapidares de um retor...”.

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o simplesfato de apresentar Tertuliano como representante únicooumesmocemporcento autorizado da doutrinacatólica produz uma fortesuspeita de ignorânciaoumentira. Maiscuriosoainda é ignorar o imensodesenvolvimento filosófico e teológicoque se deu depois dele, sempre no sentido de harmonizar e razão. Tertuliano é uma figura de importância na Igreja: foi um de seusprimeirosdefensores e um de seusmelhoresescritores de língualatina, mas está longe de representar o pensamentocatólicooucristão no seutodo.

 

 

III

 

Temos de concluir, portanto, que a escolha de Tertuliano cheira a safadeza. E o termosafadezanão é gratuito. Freud tem todo o direito de desconhecer a história da Igreja. Não teria o direito de falarsobrereligião desconhecendo a suahistória, maspasse. Mesmoassim, o nome do seu escolhido assusta. Em nenhuma fonte minimamente séria Tertuliano aparece como representante do queveio a ser a doutrinacatólica. E não é porescassez de opçõesque Freud o escolheu: porquenãosanto Agostinho? Porquenãosanto Tomás? Porquenão Duns Scotus? Ouqualquerumdentre as dezenas de filósofos querealmentesão representativos do catolicismo? Não, portodos os meioslógicos, a escolha de Tertuliano não pode ter sido aleatória.

 

O segundoexemplodadopelo Dr. Freud como representativo da justificação da doutrinareligiosa, católica especificamente, seria a filosofia do “como se”, baseada na teoria de Hans Vaihinger. Este afirma que o homemnão pode conhecer a realidade do mundo e, comoresposta a isto, constrói sistemas de pensamentoque funcionariam “como se” correspondessem à realidade.

 

Ora, se assumirmos essa teoria da Philosophie des Als como verdadeira, a conclusãológica a que chegaremos é que o Dr. Vaihinger não conseguiu compreender a realidade, e porisso criou umsimulacrocomo se” a tivesse compreendido... E se a suaidéia é apenascomo se” fosse verdadeira, seremos obrigados a catalogá-la comoficção, nãocomofilosofia, que é apenasumsimulacro da realidade.

 

E o Dr. Freud pisa na bolanovamente ao dizerque os ensinamentos da religião (católica) estariam baseados na totalproibição de levantar a questão da suaautenticidade (pg. 42). Na realidade, é exatamente o oposto: foi justamente o exame e reexame da questão da autenticidadeque, de São Paulo até o cardeal Ratzinger, levou à formação da doutrinacatólica. Maisainda, quando essa discussãoatingir o seuauge na escolástica, a modo argumentativo, tomará justamente a estrutura de pergunta-resposta das Sumas.

 

Tudonos faz crerque o Dr. Freud ignorava porcompleto o que é a doutrinacatólica e a suaimportânciapara a questãoreligiosa. E, comoelepróprio diz, “ignorância é ignorância; [não há] nenhumdireito a acreditaremalgo [que] pode ser derivado dela” (pg. 52).

 

O futuro de uma ilusão é umensaioque, pelovisto, nasce de uma grandeilusão. Poderíamos continuar a examinaroutrosproblemasmiúdos, masesseesforço, além de enfadonho, arriscaria fazer-nos perder de vista a maiortrapaça do vienense. O que está portrás desta construçãofalaciosa é uma ilusãomuitomais perigosa que os escorregões teológicos de Freud.

 

Antes, porém, quero darumexemplo do usoque Freud faz da maiselementar das ciências filosóficas: a lógica. E garanto que o exemplonão é aleatório: o ensaio é cheio de argumentosfalaciosos, oracompremissas ocultas, oracomsilogismosque Freud explica.

 

O raciocínio está na página 53: “Avaliar o valor de verdade das doutrinas religiosas não se acha no escopo da presenteinvestigação. Basta-nos que as tenhamos reconhecido como sendo, emsuanaturezapsicológica, ilusões”. A contradição é óbvia: no primeiroperíodo está ditoqueavaliar a verdade das doutrinasnão é o objetivo do texto, para, no períodoseguinte, fazer a maior valoração possível: classificar as doutrinas religiosas comoilusão.

 

Vejamos a definição de “ilusão” no Aurélio: “1. Engano dos sentidosou da mente, que faz que se tome uma coisaporoutra, que se interprete erroneamente umfatoou uma sensação; falsaaparência. Ou seja, o argumento de Freud é que as doutrinas religiosas são falsas, e o fato de o serem “emsuanaturezapsicológicaagrava a valoração: elassão falsas desde o seuprincípio no homem. Se ele tivesse ditoisto de formaclaranãopoderiasimplesmentereconhecer”: teria queprovar. A solução foi colocar a conclusão do seuestudocomopremissa oculta, e depoisdizer o quelhe interessava.

 

Examinemos a esta luz a questão de Tertuliano e a perguntafeitaalgunsparágrafosacima: o que o cartaginês está fazendo aqui? Ora, colocando o Credo quia absurdum no centro da doutrina cristã, Freud aboliu, de uma só vez, todas as tensõesinerentes ao cristianismo. Se se acredita emalgoporque é absurdo, esteabsurdo obviamente nada terá a vercom a razão, e nemnemrazão terão nada a vercom a experiênciareligiosa. Todo o dramareligioso dos últimosdoismilênios é tratadocomoinexistente, e a partir dessa inexistência Freud pode transformar a religião no queelebementender.

 

Desse jeito é fácildizerque a é resultado do desamparo da infância (pg. 31), que a doutrina é ummeio de impedir o questionamento (pg. 42) e que a experiênciareligiosa é coisa dos nossosancestrais, queeram muitomaisignorantes do quenós” (sic; pg. 43).

 

O Dr. Freud pode anular o cristianismocom uma saídapelatangente, masnão pode anular o homem na suatotalidade. Já foi bastanteoriginal ao pretenderanalisar o cristianismo (ou a “religiosidade européia”) a partir de Tertuliano, mas a suaoriginalidadenão pode chegar a abolir a nossaconsciência, a aplicação da razão aos dados existenciais da nossavida, entre os quaisporexemplo o da nossa finitude, presente na únicacertezaque temos desde o nascimento: a morte. A consciência está presenteemtodosnósquando tentamos pensar o sersegundo as categorias do real – as únicas que temos à nossadisposição. Está presente no homemque sabe que pode pensaralgoalém de simesmo, masnão pode sernadamaisque, no meucaso, umprojeto de engenheiro doublé de filósofo.

 

Eu disse acimaque Freud não podia anular o homem na suatotalidade: e não pode mesmo. Masbemqueele tentou. Tentou, pois, paraqueesseseuensaio tivesse o mínimo de plausibilidade, o homemnãopoderiaterconsciêncianemserresponsávelpelosseusatos. Não, o homem descrito por Freud é ummerojoguete dos instintos.

 

Semquerer, outrafaceobscura de O futuro de uma ilusão aparece claracomo a luz. Toda a primeiraparte do ensaio (os doisprimeiroscapítulos) que parecia apenas uma introduçãoinócua, comdivagações sociológicas, mostra a sua verdadeira função: de maneiraindireta, comosempre, o que vemos ali é a tentativa de anular a consciênciahumana e, emúltimaanálise, o homeminteiro.

 

Nas vinte e cinco primeiras páginaselenos diz que as relações humanas são influenciadas pelasatisfaçãoinstintiva (pg. 10), queumhomem pode funcionarcomoriquezaemrelação a outrohomem (pg. 11), que o comportamento na sociedade pode serdeterminado pelas tendências destrutivas (pg. 12), que a moral é resultado da internalização da coerçãoexterna (pg. 19) etc. Tudoisto é parcialmenteverdade, mastambém é verdadeque o Dr. Freud não foi o úniconem o primeiro a saber disso. Todohomem sabe que pode sobrepor-se a estesinstintos, quer poramor, quer pordeterminaçãoouporcoragem; ou seja, as suasaçõesnãosão determinadas apenaspelosinstintos, masporumato de deliberação da vontade, no qual estão presentestanto os instintosquanto a razão e a consciência. Ao analisar o comportamentohumano, Freud faz consideraçõesmuitopertinentes, mas esquece de avisarque existe algoalém delas. O homemnão é feito de instinto.

 

Assim, podemos resumir o nossoitinerárioatéaqui da seguintemaneira: à primeiravista, O futuro de uma ilusão parece umtextoclaro e objetivo, porém algumas coisas ficam mal explicadas. Dentre as coisasmal explicadas notamos a presença de uma figurasecundária da história do cristianismo, quepoderiapassarcomopeculiaridade do textosemgerarnenhumquestionamentoposterior. No entanto, olhamos mais de perto e vimos que as coisasnão batiam: Tertuliano foi uma coisa e Freud o coloca comooutra. Levantamos algumas outras questõesemque fica claro o ilusionismo, a prestidigitaçãológica. Feitoisto, voltamos à obra analisada e as dúvidas se esclareceram: primeiro ficou claroqual é o princípio errado do texto; depois desvendamos como Freud fez paraque a totalinversão dos papéis parecesse clara e objetiva. Falta, no entanto, a visão de conjunto.

 

E a coisa é curiosa. Freud critica na religião, essencialmente, o fato de as doutrinas serem construçõesque falsificam a realidadehumana. Masquem faz istocommuitomaisperfeição é Sigmund Freud: começaportransformar o homem num bloco monolítico de instinto, quenão admite questionamentoexterior; prossegue transformando a religião num bloco monolítico de imposições, quetambémnão podem ser questionadas de fora do seusistema; e termina com a redenção do mundo. Porquem? Ora, porelemesmo, é claro.

 

Pois o quedesde o início esteve emjogo é a certeza de que o homem atingiu evolutivamenteumnível de inteligênciasuperior aos seusancestrais e agora, através do “pensamentocientífico”, poderá superar a fasereligiosa e viver num mundojusto. Os quatroúltimoscapítulossão dedicados ao tema de como se dará essa superação. Na verdade o nomenão é dado, nem convém citá-lo, mas estamos tratando de escatologia. Com a diferença de que no cristianismo o reino de Deus virá com o fim deste mundo. Para Freud, que se cansou de esperar, a resolução da História acontecerá agoramesmo; na verdade começou, e eleveioapenasparanosdar uma mãozinha 4.

 

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 (4) Sobre o assunto, ver Eric Voegelin, The New Science of Politics, especialmente o capítulo 4. Trad. port. A novaciência da política, 2ª ed., Edit. Universidade de Brasília, 1982, 148 págs.

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A ideologia abraçada por Freud não é original: começacom Hegel e o “fim da História”, depoisganharequintescom a FilosofiaPositiva de Comte, o Super-Homem de Nietzsche, o Terceiro Reich de Hitler, a Era do Proletário de Marx e demaisgigantes da Lilliput moderna. A diferençaentreelas é grande, mas o princípio é exatamente o mesmo: a imanentização do conceito de perfeição e a certeza de que, a partir de agora, dispomos dos meiospara alcançá-la.

 

 

VI

 

As conseqüências de tantas idéiasbrilhantes foram vividas no século XX, seja em Auschwitz, seja na Escola de Frankfurt. O quenão se pode perder de vista, no entanto, é quenão estamos tratando de umproblema filosófico no sentidomoderno, mas da própriasubstância existencial do homem. O pensamento de Freud pode parecermuitobem estruturado e coerente, mas esconde emsuaessência a transformação do homememtotem, em uma Medusaque encontrou a suaredenção na pedra.

 

O saltoparaesferapolíticatambémnão é despropositado; é verdadeque a psicanálisenão tem e não teve quase nenhuma pretensãopolítica, mas a identidade dos temas e do modo de abordagem é tamanhaque a comparação se faz necessária. Tanto é assim, que o próprio Dr. Freud o reconhece na página 15: Não gostaria de dar a impressão de terme extraviado da linha estabelecida paraminhainvestigação. Permitam-me, portanto, fornecer a garantiaexpressa de quenão tenho a menorintenção de formularjuízossobre o grandeexperimentoemcivilizaçãoque se encontrahojeemdesenvolvimento no imensopaísque se estende entre a Europa e a Ásia”.

 

Além da indômitacaracterística de nãodarnome aos bois, o que está expresso nesta passagem é a quaseidentidadeentre o pensamentofreudiano e o marxista, quechega a ponto de o autorterquedar a “garantiaexpressa” de nãoestar falando de umtemaquenão teria nada a vercomseuobjetivo. Não estou afirmando que Freud está mentindo quando adverte nãoternada a vercom o comunismo: pode muitobemserverdade. Mas os princípios existenciais sãoexatamente os mesmos; e não do comunismo, mas de praticamente todos os ismos modernos, a maneiramaiseficiente de matar inventada. Seja em Treblinka, seja no Gulag, seja a mortequenãomata.

 

Porfim, gostaria de concluircomumponto no qualmeencontroemtotalacordocom Sigmund Freud. Ele diz: “Quanto a questões de religião, as pessoassão culpadas de todaespécie de desonestidade e mau procedimento intelectual” (pg. 52). Perfeito...